Oficina literária aos desavisados poéticos
Da literatura já se falou tudo
De mim ninguém falou absolutamente persona grata
Apesar de poeta, cantor lírico e halterofilista
Na casa das polaicas imortais urinei nas letras e nos prêmios
Em latrinas de prata, riscando assim meu nome na espera das ressurreições editoriais.
No zimbório pós-moderno vivo em banho Maria na panela ardente da (de) pressão
Não tenho ao lado um amigo Antônio no piano de cauda de pavão
Nem Carlos o gauche na vila de ferro com seus bois da memória
Antologias em tempos de secas e jias pós-graduação do sertão
Na porteira tenho um amigo com uma sede de leopardo
Lascívia vida leonardiana num percurso absurdo
Com J.C. Marçal
O que se extrai do mar literário além do sal dos rascunhos
E dos frêmitos das vacas sagradas das palavras cruzadas
Apanhadas nos secretos gestos onomásticos das amadas.
Tardes e noites poéticas
Escrever poesias em conchas acústicas
Quem as lerá?
Os desavisados vanguardistas de passagem por Passargada
Na reengenharia da vagabundagem – os versos atilhados na fealdade
Em enálages de ruas onde estão proibidos de estacionar.
.
sábado, 31 de julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
Leonardo Neves
AQUI
nesta cidade raquítica,
de gente maleva,
de bandidos atormentados;
nesta cidade enferrujada no mundo,
como um imenso velho cadeado fechado;
entre povos de voz alambicada
e mulheres de ventres cansados de parir;
entre sertanejos de fraques e cachecóis;
OUÇO:
ainda bem,
ainda,
o delicioso aboio do sexo,
em automóveis aerodinâmicos,
em viadutos;
o ranger suado e cru,
em boates caras,
em hotéis de duas horas (ou de pernoite)...
Oh, local notável!
Oh, esplêndido local!
Inexprimível consciência
(a minha),
sob um sol inabitável,
a cantar versos à capela,
sobre a solidão das pontes.
Cidade raquítica,
hei de conhecer o pecado de tuas mulheres todas,
de me intoxicar no teu léxico em dias transtornados,
enquanto haverá os tristes pelos mortos
de vida Severina.
E à noite,
quando a lua bizarra for apenas o resíduo das luzes,
e os últimos bacuraus arrastarem suas tripulações bestiais
aos Infernos,
darei passeios esguios em teu pasto,
saberei da calma à marga calma,
viverei de festas opulentas,
e um dia morrerei,
aqui,
como um samurai.
.
nesta cidade raquítica,
de gente maleva,
de bandidos atormentados;
nesta cidade enferrujada no mundo,
como um imenso velho cadeado fechado;
entre povos de voz alambicada
e mulheres de ventres cansados de parir;
entre sertanejos de fraques e cachecóis;
OUÇO:
ainda bem,
ainda,
o delicioso aboio do sexo,
em automóveis aerodinâmicos,
em viadutos;
o ranger suado e cru,
em boates caras,
em hotéis de duas horas (ou de pernoite)...
Oh, local notável!
Oh, esplêndido local!
Inexprimível consciência
(a minha),
sob um sol inabitável,
a cantar versos à capela,
sobre a solidão das pontes.
Cidade raquítica,
hei de conhecer o pecado de tuas mulheres todas,
de me intoxicar no teu léxico em dias transtornados,
enquanto haverá os tristes pelos mortos
de vida Severina.
E à noite,
quando a lua bizarra for apenas o resíduo das luzes,
e os últimos bacuraus arrastarem suas tripulações bestiais
aos Infernos,
darei passeios esguios em teu pasto,
saberei da calma à marga calma,
viverei de festas opulentas,
e um dia morrerei,
aqui,
como um samurai.
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sexta-feira, 16 de julho de 2010
Eduardo Cordeiro
Ode a Edo
Precisa-se da dor...
A trôpegos passos sinto o grito,
a mesmice opaca
de bons bêbedos.
De bardos e bêbedos
não espero!
As marquises estão encharcadas
Ainda o salto.
Não à eternidade sedenta,
sobraram
gotículas da bela dama
no copo
no vaso
na dor.
Então...
.
Precisa-se da dor...
A trôpegos passos sinto o grito,
a mesmice opaca
de bons bêbedos.
De bardos e bêbedos
não espero!
As marquises estão encharcadas
Ainda o salto.
Não à eternidade sedenta,
sobraram
gotículas da bela dama
no copo
no vaso
na dor.
Então...
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Jairo Lima
Grande hotel
Pequeno, limpo, acanhado,
Empurra, com relutância, o vento de suas esquinas
E ali se posta, calado
Não reparei se consegue espiar o mar;
Acho que não;
Não o vi, saudoso, como quem avista navios
Nem assombrado como quem se ofusca
No espelho branco do chão
Antes o vejo como menino ingênuo e pacato
Ou como velho e doce professor aposentado
A pastorar a decadência sem fim das horas de torpor
Que escorrem pelos becos escaldantes
Triturando os ossos da tarde e bebendo o seu suor.
Os seus corredores, no entanto, espantam
De tão jovens e caiados
Ali não se ouvem vozes,
Não ressoam passos e nem se lembra a dor
Das cortinas queimadas na explosão
Diária do sol
Vai chamar Humphrey Bogart, menino,
Aquele ali, de costas, em frente à porta
Do elevador.
.
Pequeno, limpo, acanhado,
Empurra, com relutância, o vento de suas esquinas
E ali se posta, calado
Não reparei se consegue espiar o mar;
Acho que não;
Não o vi, saudoso, como quem avista navios
Nem assombrado como quem se ofusca
No espelho branco do chão
Antes o vejo como menino ingênuo e pacato
Ou como velho e doce professor aposentado
A pastorar a decadência sem fim das horas de torpor
Que escorrem pelos becos escaldantes
Triturando os ossos da tarde e bebendo o seu suor.
Os seus corredores, no entanto, espantam
De tão jovens e caiados
Ali não se ouvem vozes,
Não ressoam passos e nem se lembra a dor
Das cortinas queimadas na explosão
Diária do sol
Vai chamar Humphrey Bogart, menino,
Aquele ali, de costas, em frente à porta
Do elevador.
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sábado, 10 de julho de 2010
Gustavo Pedrosa
Mulher
Por que não me dizes logo não?
Como uma mãe a um filho mal criado
Ou me põe em teu colo
E faz cafuné para que durma?
Assim me pouparias desta espera angustiante
Deste silêncio inquietante
Dessas rimas sufocantes.
Mande-me rezar o Pai Nosso
Dê-me um beijo na testa
E com um riso doce
Chame-me de filho
E renegue-me.
Renegue-me com todo despudor possível
Arranque o véu do rosto
E renegue-me antes de calar.
Chame-me de tolo
Erga a mão à meia altura
E balance-a
Mostre aquele semblante triste
Característico das despedidas
E enlace-se com outro
E chame-o de tolo
Dias depois...
.
Por que não me dizes logo não?
Como uma mãe a um filho mal criado
Ou me põe em teu colo
E faz cafuné para que durma?
Assim me pouparias desta espera angustiante
Deste silêncio inquietante
Dessas rimas sufocantes.
Mande-me rezar o Pai Nosso
Dê-me um beijo na testa
E com um riso doce
Chame-me de filho
E renegue-me.
Renegue-me com todo despudor possível
Arranque o véu do rosto
E renegue-me antes de calar.
Chame-me de tolo
Erga a mão à meia altura
E balance-a
Mostre aquele semblante triste
Característico das despedidas
E enlace-se com outro
E chame-o de tolo
Dias depois...
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quinta-feira, 8 de julho de 2010
Flávio Minno
Poema para os senhores Neves e Marçal
De manhã tomo meus remédios com um cappuccino
e começo refém do roteiro tragicômico do dia,
com seus obstáculos reais e muitos ainda imaginários.
E se assim começa o dia, como não preferir a noite?
Os senhores poderão atribuir à preguiça
o fato de eu não conseguir encarar o Ulisses,
mas é que neste plano é-me mais prazeroso
o onírico, o notívago fardo Finnegans Wake.
Em Ulisses, para mim, os labirintos sombrios,
o espanto, como meu espanto matinal cotidiano,
eu sei que Ilegível e absurdo é mesmo meu dia.
Porém há no outro um espelho menos denso,
talvez como este poema, demais extenso,
que, desnecessário, fala tanto para dizer tão pouco.
De manhã tomo meus remédios com um cappuccino
e começo refém do roteiro tragicômico do dia,
com seus obstáculos reais e muitos ainda imaginários.
E se assim começa o dia, como não preferir a noite?
Os senhores poderão atribuir à preguiça
o fato de eu não conseguir encarar o Ulisses,
mas é que neste plano é-me mais prazeroso
o onírico, o notívago fardo Finnegans Wake.
Em Ulisses, para mim, os labirintos sombrios,
o espanto, como meu espanto matinal cotidiano,
eu sei que Ilegível e absurdo é mesmo meu dia.
Porém há no outro um espelho menos denso,
talvez como este poema, demais extenso,
que, desnecessário, fala tanto para dizer tão pouco.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Flávio Minno
O cerzidor
Eu cerzi minha memória e minha fome,
minha alma de intenções e descobrimentos,
e por vezes caí cheirando frutos,
podei a videira, lavrei a terra úmida,
ocre, plena de seiva. E fiz por minha dor;
eu cerzi minha memória e minha fama.
E não seria tarde se eu acolhesse
em minhas mãos um simples pomo
e se eu comungasse com o vento
em seu ater-se e seu soprar de rogo fácil,
colheria uma cura para alma enfermiça.
.
Eu cerzi minha memória e minha fome,
minha alma de intenções e descobrimentos,
e por vezes caí cheirando frutos,
podei a videira, lavrei a terra úmida,
ocre, plena de seiva. E fiz por minha dor;
eu cerzi minha memória e minha fama.
E não seria tarde se eu acolhesse
em minhas mãos um simples pomo
e se eu comungasse com o vento
em seu ater-se e seu soprar de rogo fácil,
colheria uma cura para alma enfermiça.
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