segunda-feira, 30 de agosto de 2010
André Lira
Manhã
Janelas explodem ao toque da brisa
Da manhã que chega repentinamente
Abrindo caminho sem olhar onde pisa
Fazendo fugir a escuridão displicente.
O orvalho da noite que se foi depressa
Se joga ao chão como o pranto incontido
Molhando a terra como quem regressa
Após o sono de um dia recém nascido.
A natureza sintoniza-se com a música matutina
Dos pássaros que entoam odes em sibilos
Evocando a vida que renasce e se descortina
Em formas e cores nos campos e silos.
O alvorecer chega sempre tempestuoso
Sem poupar a escuridão que reluta em fugir
Para dar lugar ao dia que caminha majestoso
Derrotando as trevas sem um golpe desferir.
.
Sander Brawen
O AMOR É UMA ILUSÃO
Você não sabe quem é você
Você não sabe quem eu sou
No mundo das formas, sei quem é você
No mundo das formas, sei quem sou eu
Quem acho quem eu sou, não sabe quem é você
Você não me ama, porque também não sabe o que é o amor
O amor só existe no mundo das formas
O amor é uma ilusão
No mundo das idéias só existe a unidade
E o amor necessita de pluralidade
No mundo das formas, só as sensações
Existe apenas quem você acha que é
Você não me ama
Apenas, seu corpo se apega aos prazeres que o meu corpo produz
Apenas, apegos e sensações
O amor é a sombra da consciência de unidade
A sombra do amor é a ilusão
O amor é uma ilusão.
.
Jeanne Araújo
JURAMENTOS
Um dia meu pai disse:
- Espera que eu volto
pra consolidar o nosso amor.
E minha mãe envolveu-se
em delicadas nuvens de espera.
Como flor, lírio, crisântemo,
tricotando o mesmo casaquinho
que um dia deixou sem terminar
foi se fazendo bonita e extensa.
O olho na janela,
na esquina da rua,
na carta interminável,
a espera caduca.
Mãe, você foi abençoada.
Eu?
Eu não acredito em juramentos.
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Um dia meu pai disse:
- Espera que eu volto
pra consolidar o nosso amor.
E minha mãe envolveu-se
em delicadas nuvens de espera.
Como flor, lírio, crisântemo,
tricotando o mesmo casaquinho
que um dia deixou sem terminar
foi se fazendo bonita e extensa.
O olho na janela,
na esquina da rua,
na carta interminável,
a espera caduca.
Mãe, você foi abençoada.
Eu?
Eu não acredito em juramentos.
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sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Jairo Lima
No bar
Chegaste a mim não como lume
Mas como Pergunta exposta na toalha sobre a mesa
E com olhos irônicos fitaste o Vazio dos meus olhos
E nos meus olhos te atiraste como um predador na rota de sua presa
Na boca um sorriso zombava de futuros e certezas
E eu te vi.
Te vi como se vê mares e dunas
Como coisas que são sem oráculos nem seitas
Que não se anunciam, nem aguardam, nem ficam, nem se vão:
Ali estavas de pé em frente aos panos da noite
E parecia que contigo aquela noite estava feita
Te vi coxas, riso, ombros e mãos
Perdidos entre afago e maldição
Enquanto o sol ainda se esconde tua mão me marca a pele e impõe fronteiras de posse
Num corpo que já não é mais o meu e se entrelaça no teu e se contorce
Os lábios se encontram e vão em busca dos vapores quentes da alma
Se colam, se penetram, se invadem;
Não são asas de pássaros, são patas de cavalo
Destruindo colheitas
Aquela noite só prometia suores
Conquistados a cada beijo
Os latifúndios do desejo
Eram cada vez maiores
(-----------)
Vim de longe
Em hora incerta
Vim de lunas
Vim de céus perfurados de estrelas
Vim de amores submersos em dores e desfeitas
Para que celebrasses a consagração bizarra
Que faz a carne virar pão
O sangue virar vinho
E a cama virar mesa
Onde a fome dispõe as suas facas
Para cortar as carnes e sugar a seiva
(-----------------)
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Flávio Minno
A pedra
O patriarca trouxe de Ur o conhecimento,
procurou a melhor massa e a melhor pedra,
e chamou o mais velho ferreiro do clã:
a bela pedra, a jóia bruta do homem
consumar-se-á sob o fogo da metalurgia,
no círculo da eterna reconstrução,
até a perfeição em variadas teurgias.
E o fogo vitorioso na fornalha não cessa
e a pedra fica cada vez mais acendida,
sem pressa o dragão devora a própria cauda
e todo o curso do tempo assim recomeça.
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O patriarca trouxe de Ur o conhecimento,
procurou a melhor massa e a melhor pedra,
e chamou o mais velho ferreiro do clã:
a bela pedra, a jóia bruta do homem
consumar-se-á sob o fogo da metalurgia,
no círculo da eterna reconstrução,
até a perfeição em variadas teurgias.
E o fogo vitorioso na fornalha não cessa
e a pedra fica cada vez mais acendida,
sem pressa o dragão devora a própria cauda
e todo o curso do tempo assim recomeça.
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Delmo Montenegro
Imprimatur
João Crisóstomo, livreiro da Arcádia
para vender este livro
faz-se necessário entender
que minha fala não é partidária da literatura portuguesa
minha fala é Holanda restaurada
Mauristaad cerebral, rosa de ditirambos
signo árcade corrosivo
abscesso da noite cancerígena do homem
para entender a composição deste tratado
releia as chagas recifenses
a prosódia oficial das lojas quiméricas
refaremos a escritura destas ilhas adâmicas
através do sol pentecostal dos vícios
das lojas abertas do crime
serão novos dias inscritos por nós contra o sol da tradição
contra as assembléias lexicais
porém não espere por lucros ou honras acadêmicas
João Crissóstomo, livreiro da Arcádia
para vender este livro
tua vida desfalecerá na imprensa da Infâmia
conhecerás o ódio das polícias políticas
João Crisóstomo, livreiro da Arcádia
imprima os pavores desta nova Prosopopéia
que a Musa Cívia cante uma vez mais
a Comédia Pernambucana
.
João Crisóstomo, livreiro da Arcádia
para vender este livro
faz-se necessário entender
que minha fala não é partidária da literatura portuguesa
minha fala é Holanda restaurada
Mauristaad cerebral, rosa de ditirambos
signo árcade corrosivo
abscesso da noite cancerígena do homem
para entender a composição deste tratado
releia as chagas recifenses
a prosódia oficial das lojas quiméricas
refaremos a escritura destas ilhas adâmicas
através do sol pentecostal dos vícios
das lojas abertas do crime
serão novos dias inscritos por nós contra o sol da tradição
contra as assembléias lexicais
porém não espere por lucros ou honras acadêmicas
João Crissóstomo, livreiro da Arcádia
para vender este livro
tua vida desfalecerá na imprensa da Infâmia
conhecerás o ódio das polícias políticas
João Crisóstomo, livreiro da Arcádia
imprima os pavores desta nova Prosopopéia
que a Musa Cívia cante uma vez mais
a Comédia Pernambucana
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domingo, 8 de agosto de 2010
Gustavo Pedrosa
Poema em destruída gestação
Poesia esmagada por mãos
Aflitas, instigadas pelo álcool
Corrediço de portas sem trancas
Lançada em guardanapo
Sobre um chão duro de paralelepípedo
Poesia escrachada pela verve pietrowagneriana
A hora de arriscar talvez merecesse mais belos versos
Rebuscadas palavras
Um pouco mais de classicismo
Os versos agora rotos, encharcados pela chuva da madrugada
Levados pela água que lavou a rua
E levou os bêbados junto
Os versos do que fora um poema de um sábado fora de hora
De solidão equivocada na cidade natal
São lembranças pálidas de um mente cansada
Do homem que as mulheres procuram,
O companheiro, o amante, o não perfeito,
O não príncipe, o íntegro
Que abre os seus ouvidos e usa a sua mente
Para processar o que escuta
E amadurecer.
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Poesia esmagada por mãos
Aflitas, instigadas pelo álcool
Corrediço de portas sem trancas
Lançada em guardanapo
Sobre um chão duro de paralelepípedo
Poesia escrachada pela verve pietrowagneriana
A hora de arriscar talvez merecesse mais belos versos
Rebuscadas palavras
Um pouco mais de classicismo
Os versos agora rotos, encharcados pela chuva da madrugada
Levados pela água que lavou a rua
E levou os bêbados junto
Os versos do que fora um poema de um sábado fora de hora
De solidão equivocada na cidade natal
São lembranças pálidas de um mente cansada
Do homem que as mulheres procuram,
O companheiro, o amante, o não perfeito,
O não príncipe, o íntegro
Que abre os seus ouvidos e usa a sua mente
Para processar o que escuta
E amadurecer.
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sábado, 31 de julho de 2010
Fernando Figuerôa
Oficina literária aos desavisados poéticos
Da literatura já se falou tudo
De mim ninguém falou absolutamente persona grata
Apesar de poeta, cantor lírico e halterofilista
Na casa das polaicas imortais urinei nas letras e nos prêmios
Em latrinas de prata, riscando assim meu nome na espera das ressurreições editoriais.
No zimbório pós-moderno vivo em banho Maria na panela ardente da (de) pressão
Não tenho ao lado um amigo Antônio no piano de cauda de pavão
Nem Carlos o gauche na vila de ferro com seus bois da memória
Antologias em tempos de secas e jias pós-graduação do sertão
Na porteira tenho um amigo com uma sede de leopardo
Lascívia vida leonardiana num percurso absurdo
Com J.C. Marçal
O que se extrai do mar literário além do sal dos rascunhos
E dos frêmitos das vacas sagradas das palavras cruzadas
Apanhadas nos secretos gestos onomásticos das amadas.
Tardes e noites poéticas
Escrever poesias em conchas acústicas
Quem as lerá?
Os desavisados vanguardistas de passagem por Passargada
Na reengenharia da vagabundagem – os versos atilhados na fealdade
Em enálages de ruas onde estão proibidos de estacionar.
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Da literatura já se falou tudo
De mim ninguém falou absolutamente persona grata
Apesar de poeta, cantor lírico e halterofilista
Na casa das polaicas imortais urinei nas letras e nos prêmios
Em latrinas de prata, riscando assim meu nome na espera das ressurreições editoriais.
No zimbório pós-moderno vivo em banho Maria na panela ardente da (de) pressão
Não tenho ao lado um amigo Antônio no piano de cauda de pavão
Nem Carlos o gauche na vila de ferro com seus bois da memória
Antologias em tempos de secas e jias pós-graduação do sertão
Na porteira tenho um amigo com uma sede de leopardo
Lascívia vida leonardiana num percurso absurdo
Com J.C. Marçal
O que se extrai do mar literário além do sal dos rascunhos
E dos frêmitos das vacas sagradas das palavras cruzadas
Apanhadas nos secretos gestos onomásticos das amadas.
Tardes e noites poéticas
Escrever poesias em conchas acústicas
Quem as lerá?
Os desavisados vanguardistas de passagem por Passargada
Na reengenharia da vagabundagem – os versos atilhados na fealdade
Em enálages de ruas onde estão proibidos de estacionar.
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domingo, 25 de julho de 2010
Leonardo Neves
AQUI
nesta cidade raquítica,
de gente maleva,
de bandidos atormentados;
nesta cidade enferrujada no mundo,
como um imenso velho cadeado fechado;
entre povos de voz alambicada
e mulheres de ventres cansados de parir;
entre sertanejos de fraques e cachecóis;
OUÇO:
ainda bem,
ainda,
o delicioso aboio do sexo,
em automóveis aerodinâmicos,
em viadutos;
o ranger suado e cru,
em boates caras,
em hotéis de duas horas (ou de pernoite)...
Oh, local notável!
Oh, esplêndido local!
Inexprimível consciência
(a minha),
sob um sol inabitável,
a cantar versos à capela,
sobre a solidão das pontes.
Cidade raquítica,
hei de conhecer o pecado de tuas mulheres todas,
de me intoxicar no teu léxico em dias transtornados,
enquanto haverá os tristes pelos mortos
de vida Severina.
E à noite,
quando a lua bizarra for apenas o resíduo das luzes,
e os últimos bacuraus arrastarem suas tripulações bestiais
aos Infernos,
darei passeios esguios em teu pasto,
saberei da calma à marga calma,
viverei de festas opulentas,
e um dia morrerei,
aqui,
como um samurai.
.
nesta cidade raquítica,
de gente maleva,
de bandidos atormentados;
nesta cidade enferrujada no mundo,
como um imenso velho cadeado fechado;
entre povos de voz alambicada
e mulheres de ventres cansados de parir;
entre sertanejos de fraques e cachecóis;
OUÇO:
ainda bem,
ainda,
o delicioso aboio do sexo,
em automóveis aerodinâmicos,
em viadutos;
o ranger suado e cru,
em boates caras,
em hotéis de duas horas (ou de pernoite)...
Oh, local notável!
Oh, esplêndido local!
Inexprimível consciência
(a minha),
sob um sol inabitável,
a cantar versos à capela,
sobre a solidão das pontes.
Cidade raquítica,
hei de conhecer o pecado de tuas mulheres todas,
de me intoxicar no teu léxico em dias transtornados,
enquanto haverá os tristes pelos mortos
de vida Severina.
E à noite,
quando a lua bizarra for apenas o resíduo das luzes,
e os últimos bacuraus arrastarem suas tripulações bestiais
aos Infernos,
darei passeios esguios em teu pasto,
saberei da calma à marga calma,
viverei de festas opulentas,
e um dia morrerei,
aqui,
como um samurai.
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sexta-feira, 16 de julho de 2010
Eduardo Cordeiro
Ode a Edo
Precisa-se da dor...
A trôpegos passos sinto o grito,
a mesmice opaca
de bons bêbedos.
De bardos e bêbedos
não espero!
As marquises estão encharcadas
Ainda o salto.
Não à eternidade sedenta,
sobraram
gotículas da bela dama
no copo
no vaso
na dor.
Então...
.
Precisa-se da dor...
A trôpegos passos sinto o grito,
a mesmice opaca
de bons bêbedos.
De bardos e bêbedos
não espero!
As marquises estão encharcadas
Ainda o salto.
Não à eternidade sedenta,
sobraram
gotículas da bela dama
no copo
no vaso
na dor.
Então...
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Jairo Lima
Grande hotel
Pequeno, limpo, acanhado,
Empurra, com relutância, o vento de suas esquinas
E ali se posta, calado
Não reparei se consegue espiar o mar;
Acho que não;
Não o vi, saudoso, como quem avista navios
Nem assombrado como quem se ofusca
No espelho branco do chão
Antes o vejo como menino ingênuo e pacato
Ou como velho e doce professor aposentado
A pastorar a decadência sem fim das horas de torpor
Que escorrem pelos becos escaldantes
Triturando os ossos da tarde e bebendo o seu suor.
Os seus corredores, no entanto, espantam
De tão jovens e caiados
Ali não se ouvem vozes,
Não ressoam passos e nem se lembra a dor
Das cortinas queimadas na explosão
Diária do sol
Vai chamar Humphrey Bogart, menino,
Aquele ali, de costas, em frente à porta
Do elevador.
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Pequeno, limpo, acanhado,
Empurra, com relutância, o vento de suas esquinas
E ali se posta, calado
Não reparei se consegue espiar o mar;
Acho que não;
Não o vi, saudoso, como quem avista navios
Nem assombrado como quem se ofusca
No espelho branco do chão
Antes o vejo como menino ingênuo e pacato
Ou como velho e doce professor aposentado
A pastorar a decadência sem fim das horas de torpor
Que escorrem pelos becos escaldantes
Triturando os ossos da tarde e bebendo o seu suor.
Os seus corredores, no entanto, espantam
De tão jovens e caiados
Ali não se ouvem vozes,
Não ressoam passos e nem se lembra a dor
Das cortinas queimadas na explosão
Diária do sol
Vai chamar Humphrey Bogart, menino,
Aquele ali, de costas, em frente à porta
Do elevador.
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sábado, 10 de julho de 2010
Gustavo Pedrosa
Mulher
Por que não me dizes logo não?
Como uma mãe a um filho mal criado
Ou me põe em teu colo
E faz cafuné para que durma?
Assim me pouparias desta espera angustiante
Deste silêncio inquietante
Dessas rimas sufocantes.
Mande-me rezar o Pai Nosso
Dê-me um beijo na testa
E com um riso doce
Chame-me de filho
E renegue-me.
Renegue-me com todo despudor possível
Arranque o véu do rosto
E renegue-me antes de calar.
Chame-me de tolo
Erga a mão à meia altura
E balance-a
Mostre aquele semblante triste
Característico das despedidas
E enlace-se com outro
E chame-o de tolo
Dias depois...
.
Por que não me dizes logo não?
Como uma mãe a um filho mal criado
Ou me põe em teu colo
E faz cafuné para que durma?
Assim me pouparias desta espera angustiante
Deste silêncio inquietante
Dessas rimas sufocantes.
Mande-me rezar o Pai Nosso
Dê-me um beijo na testa
E com um riso doce
Chame-me de filho
E renegue-me.
Renegue-me com todo despudor possível
Arranque o véu do rosto
E renegue-me antes de calar.
Chame-me de tolo
Erga a mão à meia altura
E balance-a
Mostre aquele semblante triste
Característico das despedidas
E enlace-se com outro
E chame-o de tolo
Dias depois...
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quinta-feira, 8 de julho de 2010
Flávio Minno
Poema para os senhores Neves e Marçal
De manhã tomo meus remédios com um cappuccino
e começo refém do roteiro tragicômico do dia,
com seus obstáculos reais e muitos ainda imaginários.
E se assim começa o dia, como não preferir a noite?
Os senhores poderão atribuir à preguiça
o fato de eu não conseguir encarar o Ulisses,
mas é que neste plano é-me mais prazeroso
o onírico, o notívago fardo Finnegans Wake.
Em Ulisses, para mim, os labirintos sombrios,
o espanto, como meu espanto matinal cotidiano,
eu sei que Ilegível e absurdo é mesmo meu dia.
Porém há no outro um espelho menos denso,
talvez como este poema, demais extenso,
que, desnecessário, fala tanto para dizer tão pouco.
De manhã tomo meus remédios com um cappuccino
e começo refém do roteiro tragicômico do dia,
com seus obstáculos reais e muitos ainda imaginários.
E se assim começa o dia, como não preferir a noite?
Os senhores poderão atribuir à preguiça
o fato de eu não conseguir encarar o Ulisses,
mas é que neste plano é-me mais prazeroso
o onírico, o notívago fardo Finnegans Wake.
Em Ulisses, para mim, os labirintos sombrios,
o espanto, como meu espanto matinal cotidiano,
eu sei que Ilegível e absurdo é mesmo meu dia.
Porém há no outro um espelho menos denso,
talvez como este poema, demais extenso,
que, desnecessário, fala tanto para dizer tão pouco.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Flávio Minno
O cerzidor
Eu cerzi minha memória e minha fome,
minha alma de intenções e descobrimentos,
e por vezes caí cheirando frutos,
podei a videira, lavrei a terra úmida,
ocre, plena de seiva. E fiz por minha dor;
eu cerzi minha memória e minha fama.
E não seria tarde se eu acolhesse
em minhas mãos um simples pomo
e se eu comungasse com o vento
em seu ater-se e seu soprar de rogo fácil,
colheria uma cura para alma enfermiça.
.
Eu cerzi minha memória e minha fome,
minha alma de intenções e descobrimentos,
e por vezes caí cheirando frutos,
podei a videira, lavrei a terra úmida,
ocre, plena de seiva. E fiz por minha dor;
eu cerzi minha memória e minha fama.
E não seria tarde se eu acolhesse
em minhas mãos um simples pomo
e se eu comungasse com o vento
em seu ater-se e seu soprar de rogo fácil,
colheria uma cura para alma enfermiça.
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sexta-feira, 25 de junho de 2010
Leonardo Neves
Como pode o sol
Divertir com tanta luz
O dia
E este mar com cascalho, areia e espuma
Estas crianças
E homens em guarda-sóis
Com cervejas, peixes, crustáceos
Estas mulheres em biquínis e chapelões
Com tantos assuntos
Como pode o horizonte
Recebendo barcos e lanchas
Continuar a festa
E não fechar-se num círculo súbito
E os pélagos recalcitrarem suas ânsias
De ventania e tempestade
Como os pescadores
Coletando gordos bagres em seus molinetes
O esforço das raquetes nas esferas dos músculos
E ainda a tentativa de liberdade das pipas
O suor antigo dos ambulantes
Em sinal de insistência em continuar
Da vida
Era lua e eu lembro
Cheia
E o oceano tomara a praia com fúria
Arrastando coqueirais
Desfazendo diques
Destruindo casas
Tarde demais para ser verão
Ou mesmo inverno
Tarde demais para qualquer estação
O que era para ser amor buscava sua cura
Como
O sol nasceu quando tirei os olhos das lágrimas
Ou já estava lá?
.
Divertir com tanta luz
O dia
E este mar com cascalho, areia e espuma
Estas crianças
E homens em guarda-sóis
Com cervejas, peixes, crustáceos
Estas mulheres em biquínis e chapelões
Com tantos assuntos
Como pode o horizonte
Recebendo barcos e lanchas
Continuar a festa
E não fechar-se num círculo súbito
E os pélagos recalcitrarem suas ânsias
De ventania e tempestade
Como os pescadores
Coletando gordos bagres em seus molinetes
O esforço das raquetes nas esferas dos músculos
E ainda a tentativa de liberdade das pipas
O suor antigo dos ambulantes
Em sinal de insistência em continuar
Da vida
Era lua e eu lembro
Cheia
E o oceano tomara a praia com fúria
Arrastando coqueirais
Desfazendo diques
Destruindo casas
Tarde demais para ser verão
Ou mesmo inverno
Tarde demais para qualquer estação
O que era para ser amor buscava sua cura
Como
O sol nasceu quando tirei os olhos das lágrimas
Ou já estava lá?
.
Jairo Lima
Rimbaud
era uma mulher sem nexo
mas com filhos
de olhos duros vidros
aspeados
por sobrancelhas de pó enegrecido
era um sol deslembrado de sombras
e de mundos amanhecidos
e eu dizia aos seus olhos pequenos e incompassivos
que rimbaud já foi rimbaud
e eu não precisava de pedras nem de vidraças
para escrever um livro
nem de tetas negras ou deserto infame
nem de calvários para purgar meu sangue
ali, naquela hora afastada
eu ouvia sorrindo o seu gemido
e lhe negava o verso que implorava
e, como o dia apaga da noite os vestígios,
eu esmagava, um a um, os acordes que conduziam a lembrança de suas dores
para o olvido
.
era uma mulher sem nexo
mas com filhos
de olhos duros vidros
aspeados
por sobrancelhas de pó enegrecido
era um sol deslembrado de sombras
e de mundos amanhecidos
e eu dizia aos seus olhos pequenos e incompassivos
que rimbaud já foi rimbaud
e eu não precisava de pedras nem de vidraças
para escrever um livro
nem de tetas negras ou deserto infame
nem de calvários para purgar meu sangue
ali, naquela hora afastada
eu ouvia sorrindo o seu gemido
e lhe negava o verso que implorava
e, como o dia apaga da noite os vestígios,
eu esmagava, um a um, os acordes que conduziam a lembrança de suas dores
para o olvido
.
Eduardo Cordeiro
Das-dores
Ó Ceará dos meus bordéis,
ainda vingam suas paixões
em braços alheios.
Ó Das-dores minha pequena puta
sem sombras e medos,
tão magra,
me abraça!
Nem magra
Nem mente
Nem morta
Nem nada
Ela passou (riu)
me lambeu de morte,
e eu nem me vinguei.
Ó Ceará dos meus bordéis,
ainda vingam suas paixões
em braços alheios.
Ó Das-dores minha pequena puta
sem sombras e medos,
tão magra,
me abraça!
Nem magra
Nem mente
Nem morta
Nem nada
Ela passou (riu)
me lambeu de morte,
e eu nem me vinguei.
Narcizo Bandeira Jr.
Conclusão de uma história
Complicado? Sim, seria, se os fatos não juntassem.
Pense: desde o primeiro dia, quisestes mais que beijos e abraços.
Como um tolo, não percebia teu ardente e voraz desejo.
Embalado na folia, em roubar-te um simples beijo.
Muito tempo então se passou e o acaso se fez fato.
Você mostrou-me sua verdade, deixando-me então viril e animado.
Sem mais delongas procurei concluir nosso passado.
Loucura foi tamanha a ponto de extrapolarmos,
No vai e vem da melodia, naquele ritmo embalados.
Fato bom, a ambos prazeroso, nem por um momento um pensamento maldoso.
Por certo uma grande aventura, causando-nos excelso gozo.
Delírios de prazer, ardentes como labaredas e suas chamas.
Nem a dor nos fez parar, pois a vontade era gritante e nem a dor a acompanha.
Concluímos um antigo desejo, exaustos sobre aquela cama.
Complicado? Sim, seria, se os fatos não juntassem.
Pense: desde o primeiro dia, quisestes mais que beijos e abraços.
Como um tolo, não percebia teu ardente e voraz desejo.
Embalado na folia, em roubar-te um simples beijo.
Muito tempo então se passou e o acaso se fez fato.
Você mostrou-me sua verdade, deixando-me então viril e animado.
Sem mais delongas procurei concluir nosso passado.
Loucura foi tamanha a ponto de extrapolarmos,
No vai e vem da melodia, naquele ritmo embalados.
Fato bom, a ambos prazeroso, nem por um momento um pensamento maldoso.
Por certo uma grande aventura, causando-nos excelso gozo.
Delírios de prazer, ardentes como labaredas e suas chamas.
Nem a dor nos fez parar, pois a vontade era gritante e nem a dor a acompanha.
Concluímos um antigo desejo, exaustos sobre aquela cama.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Eduardo Cordeiro
Enfant Terrible
a cada instante incitava-me
a mostrar minha insônia.
sem saber, queres sentir
o real serviço de teus braços
e seguras impávida
na minha pouca raiva...
no meu pouco desejo...
no meu pouco copo:
do largo prazer do vinho.
a cada hora acorde-me
para as satisfações
que teimo em largar
e perde-te na calma
sem saber que o medo
não é menos cruel que a coragem.
coragem de imensas
alegrias,
imersas em felicidades de tempos calmos
que teus olhos entreabrem-se
sem saber dos meus sonhos
que não são
muitos.
.
a cada instante incitava-me
a mostrar minha insônia.
sem saber, queres sentir
o real serviço de teus braços
e seguras impávida
na minha pouca raiva...
no meu pouco desejo...
no meu pouco copo:
do largo prazer do vinho.
a cada hora acorde-me
para as satisfações
que teimo em largar
e perde-te na calma
sem saber que o medo
não é menos cruel que a coragem.
coragem de imensas
alegrias,
imersas em felicidades de tempos calmos
que teus olhos entreabrem-se
sem saber dos meus sonhos
que não são
muitos.
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quinta-feira, 17 de junho de 2010
Klycia Mafra
ABRIL
Abril é a idade da inocência,
da alegria, da juventude
é a primavera da vida
abril é mês triste
frio de morte e despedidas
com pétalas negras de sangue
abril mês que nunca se esconde
dias que não se acabam
em horas de escuridão
abril levou meus sonhos
cobriu meus sentimentos
em minutos de espera
abril levou meu março
mês de honra e de Marte
deus da guerra dos antigos
abril nem tem estrelas
não tem nuvens, nem lua
nem o sol se levanta
para aquecer abril
Estou a 30 dias em um buraco
perdendo meu corpo
e fugindo da minha alma
Abril é a idade da inocência,
da alegria, da juventude
é a primavera da vida
abril é mês triste
frio de morte e despedidas
com pétalas negras de sangue
abril mês que nunca se esconde
dias que não se acabam
em horas de escuridão
abril levou meus sonhos
cobriu meus sentimentos
em minutos de espera
abril levou meu março
mês de honra e de Marte
deus da guerra dos antigos
abril nem tem estrelas
não tem nuvens, nem lua
nem o sol se levanta
para aquecer abril
Estou a 30 dias em um buraco
perdendo meu corpo
e fugindo da minha alma
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Jairo Lima
Eis, em tua alma
eis, em tua alma, a resina dos cedros
daqueles que se abeiram dos rios
e bebem, na esponja da terra, as suas águas vivas
eis o teu legado:
o teu sozinho
e este medo arrumado com cuidado nos vãos dos teus pulmões
e nas caves soterradas dos teus vinhos
eis, no rumorejar do teu sangue,
um silêncio que desliza vazio;
no espelho deste silêncio uma nave extremada a procura de ventos
eis o teu nome posto entre duas madrugadas
hóstia vermelha consagrada
aos mortíferos venenos
que em tu alma
crescem e se espedaçam
entre zunidos
de lentos sóis de prata
quentes, vivos e macios
introduzindo suas vozes em brasa na névoa do teu estio
eis, em tua alma, a resina dos cedros
daqueles que se abeiram dos rios
e bebem, na esponja da terra, as suas águas vivas
eis o teu legado:
o teu sozinho
e este medo arrumado com cuidado nos vãos dos teus pulmões
e nas caves soterradas dos teus vinhos
eis, no rumorejar do teu sangue,
um silêncio que desliza vazio;
no espelho deste silêncio uma nave extremada a procura de ventos
eis o teu nome posto entre duas madrugadas
hóstia vermelha consagrada
aos mortíferos venenos
que em tu alma
crescem e se espedaçam
entre zunidos
de lentos sóis de prata
quentes, vivos e macios
introduzindo suas vozes em brasa na névoa do teu estio
Leonardo Neves
Crônica do Sertão
No ermo. No sertão há três semanas. Não, não tão ermo assim. Há três anos talvez, na minha última visita. Hoje, com as obras de transposição do rio, chegou a força da grana erguendo e destruindo coisas belas. Gente de diversas regiões trazem a diversidade e a cidade ganha sinais de trânsito e trânsito. O matuto coloca as cadeiras nas calçadas no final do dia, com mesas, freezer e churrasqueira e em toda parte surge um ponto de comércio. As matutas não se deslumbram com os estranhos na cidade, já que são tantos. O sertanejo daqui, em geral, de astuto vai se tornando crítico. Um cabra veio do sudeste onde aprendeu a fazer pizzas com qualidade e aí você já pode comer uma com a massa bem fininha, azeite extra-virgem, ervas frescas, autentico molho de tomate e (aí entra a sofisticada cor local) uma tonelada dos ingredientes correlatos aos seus sabores porque o povo aqui só gosta de comida que fabrique muita merda. O preço ainda está tão módico que todo dia aumenta um pouquinho.
É o cosmopolitismo começando sua Babel.
Estou bem estabelecido. Em solitude e não solidão, com carro, alojamento e triplicando minha remuneração com diárias com as quais tento amenizar as dívidas. É: sou brasileiro mandingueiro/estou aqui pelo dinheiro. Cumprindo minha função de alter-ego de escritor como funcionário público.
Outro dia cometi a aventura de subir até um cruzeiro que tem por trás do departamento; aquele tipo de cisma que a gente toma talvez por um pouco de tédio, exatamente quando devia ficar quietinho até o tédio passar. Fui lá, em pleno pino do sol a pino do sertão às onze da manhã que eu é que não era maluco de acordar de madrugada pra fazer rapel em escadaria. Obviamente não havia vivalma no percurso e se houvesse seria algum maluco saído do filme A Bruxa de Blair. Não lembro de ter me sentido tão cansado em toda minha vida. Dizem que a turma sobe esta montanha pra transar ou fumar maconha. Eu digo que a escalada só serve mesmo pra pagar aquelas promessas bem impossíveis porque por tesão ou vício qualquer um brocha ou entra pros narcóticos anônimos. Bom, mas ali sim, era ermo. Ali o cheiro do vento era morno e pleno de aromas como o era o cheiro do vento da minha infância na casa da minha avó, no agreste. Lá de cima, de um lado, víamos a pólis em expansão; do outro o mundo vasto mundo, lindo, sem rima, sem Raimundo e sem solução. A água da minha garrafinha estava morna e as mutucas queriam esmiuçar minhas narinas e meus ouvidos de modo que nem todo idílio é perfeito. Não havia uma fonte, um copo, uma frase; é assim o ermo do sertão em sua demência árida, anti-poética.
Mas agora e aqui me sinto como quando eu era Antoine Roquetin em Mauville. Sento num restaurante climatizado, bebo conhaque Domecq e cervejas importadas, abro meu notebuque e, conectado à internet, volto a ser um escritor boçal.
E quando eu peço filé, vem filet.
domingo, 6 de junho de 2010
Pietro Wagner
Requiem tardio para Fernandinho
não sei de onde te observam hoje
todos aqueles que como eu
faltaram em te ver antes do não
que és agora, e talvez ainda antes desse não
quando eras, mínimo, mas tu,
e não fomos te visitar, imprevidentes
ainda que me pergunte de que valeria tal visita
ainda que me impute uma certa
e falsa intransigência com minha falta
ou que me empenhe no lirismo egocêntrico
de te festejar em brindes
como uma forma de ajustar em mim a tua morte
ou antes a minha ausência
e ainda antes disso, o “não fui te ver’
com que me dei conta,
eu que não fui teu amigo no fim,
ainda assim,
acho que posso escrever este poema
ah, imprudente versejador dos bares,
eis o que te dou por lápide de uma amizade
eu que te assustei com minhas bravatas
que repudiei teus rotos versos
– e eles eram mesmo muito ruins –
agora lamento
o não ter ido, o não ter visto
o não ter estado, o não ter sido
requiem aeternam dona eis
a mim e a ti
não sei de onde te observam hoje
todos aqueles que como eu
faltaram em te ver antes do não
que és agora, e talvez ainda antes desse não
quando eras, mínimo, mas tu,
e não fomos te visitar, imprevidentes
ainda que me pergunte de que valeria tal visita
ainda que me impute uma certa
e falsa intransigência com minha falta
ou que me empenhe no lirismo egocêntrico
de te festejar em brindes
como uma forma de ajustar em mim a tua morte
ou antes a minha ausência
e ainda antes disso, o “não fui te ver’
com que me dei conta,
eu que não fui teu amigo no fim,
ainda assim,
acho que posso escrever este poema
ah, imprudente versejador dos bares,
eis o que te dou por lápide de uma amizade
eu que te assustei com minhas bravatas
que repudiei teus rotos versos
– e eles eram mesmo muito ruins –
agora lamento
o não ter ido, o não ter visto
o não ter estado, o não ter sido
requiem aeternam dona eis
a mim e a ti
Neide Travassos
O Vento Vivendo na Casa
vento e mar talharam-se no meu corpo
cessar tua estação em mim foi impossível
sorvi o sumo que sopra nos ares a maresia
roubando-te estrelas marinhas para emprestar à noite
siderada no teu céu sem vestes
fiz-me azul têmpora tronco e membro
colhi versos nos teus olhos pousados nos girassóis
violinos deitaram adágio sobre a terra de ti
casa de sementes imersas, lírio e orvalho
vento e mar talharam-se no meu corpo
cessar tua estação em mim foi impossível
sorvi o sumo que sopra nos ares a maresia
roubando-te estrelas marinhas para emprestar à noite
siderada no teu céu sem vestes
fiz-me azul têmpora tronco e membro
colhi versos nos teus olhos pousados nos girassóis
violinos deitaram adágio sobre a terra de ti
casa de sementes imersas, lírio e orvalho
segunda-feira, 31 de maio de 2010
O Amor por Flávio Minno
Abriram as portas pesadas da casa sob o Vesúvio
e as estátuas dos casais abraçados ornavam o chão,
a nitidez das feições deixava entrever
que o amor não estava sob a ilusão do tempo,
mesmo nas inscrições sentimentais nas paredes
que o tempo decorrido não pôde fazer esquecer.
Em outro lugar, duas majestades egípcias,
sentadas, lada a lado, como se esperassem,
quase entrelaçam as mãos de pedra
num atalho complacente que vence a saudade
e cava a rocha rancorosa e inclemente.
Ó amor imaculado e sólido para a eternidade.
Tu és o filho do recurso, mas também da pobreza,
até os beirais sem fim, diz-me o que desejas?
O que os outros, à regra, acham ser impossível.
E és preservado para dentro das esculturas gregas,
numa jovem Dafne por um deus perseguida
ou uma Galatéia sendo amada num pedestal.
Que os arqueólogos possam descobrir o amor
guardado embaixo das ruínas, nos escombros
sob a mesa posta para a ceia que não deu tempo
ou sobre as artes, depositada a matéria da lembrança
nos submersos das antigas civilizações perdidas,
nas lendas, nas cartas destes vetustos amantes.
e as estátuas dos casais abraçados ornavam o chão,
a nitidez das feições deixava entrever
que o amor não estava sob a ilusão do tempo,
mesmo nas inscrições sentimentais nas paredes
que o tempo decorrido não pôde fazer esquecer.
Em outro lugar, duas majestades egípcias,
sentadas, lada a lado, como se esperassem,
quase entrelaçam as mãos de pedra
num atalho complacente que vence a saudade
e cava a rocha rancorosa e inclemente.
Ó amor imaculado e sólido para a eternidade.
Tu és o filho do recurso, mas também da pobreza,
até os beirais sem fim, diz-me o que desejas?
O que os outros, à regra, acham ser impossível.
E és preservado para dentro das esculturas gregas,
numa jovem Dafne por um deus perseguida
ou uma Galatéia sendo amada num pedestal.
Que os arqueólogos possam descobrir o amor
guardado embaixo das ruínas, nos escombros
sob a mesa posta para a ceia que não deu tempo
ou sobre as artes, depositada a matéria da lembrança
nos submersos das antigas civilizações perdidas,
nas lendas, nas cartas destes vetustos amantes.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Réquiem para Fernandinho Figuerôa por Leonardo Neves
A gargalhada era um grito trincando o gelo das paredes sem portas
Sem janelas
O sono era uma galhofa para colocar mais escuridão na tão solitária noite
Das noitadas
Nunca o riso ou repouso
Pois mesmo se houvesse saída
Ainda
Permaneceria
No beco
Ainda
Permaneceria
No cais
Enquanto o navio partia
Com a biblioteca
Única
Bagagem
Ainda
Permaneceria
No bar do velho mercado
Perambulando nos sebos
Escondendo a verdade pelos cabarés
Ainda permaneceria
Até perder a consciência
Bastardo filho-de-uma-mãe
Quase virgem
Nunca imaginou os caminhos que teria de percorrer
Ou que o grande fela da puta
Terminaria por escrever um Requiem
Um maldito requiem
Para somente então
Sorrir
E dormir
Sem janelas
O sono era uma galhofa para colocar mais escuridão na tão solitária noite
Das noitadas
Nunca o riso ou repouso
Pois mesmo se houvesse saída
Ainda
Permaneceria
No beco
Ainda
Permaneceria
No cais
Enquanto o navio partia
Com a biblioteca
Única
Bagagem
Ainda
Permaneceria
No bar do velho mercado
Perambulando nos sebos
Escondendo a verdade pelos cabarés
Ainda permaneceria
Até perder a consciência
Bastardo filho-de-uma-mãe
Quase virgem
Nunca imaginou os caminhos que teria de percorrer
Ou que o grande fela da puta
Terminaria por escrever um Requiem
Um maldito requiem
Para somente então
Sorrir
E dormir
Um sonho improvável por Narcizo Bandeira Jr.
Deste labor que é a vida, nada há de levar. Deixa-se os atos, e amigos a recordar.
Sendo boa ou ruim, uma história ficará. Vida única e cruel, professora dos errantes,
Rigorosa e improvável, como o mar aos aspirantes.
Mesmo triste este labor, nele tem-se um lazer, sonhar não é pecado, torna bonito tal viver.
Um sonho bem composto, é uma estória bem escrita, vejam só um grande sonho, o que tive em minha vida...
Vida simples e perfeita, excelência num viver, tal harmonia de sentimentos, a muito não se vê.
Que a maldade, a soberba, não existissem em ninguém, tal sonho é de outrora, e só num sonho que se tem.
Deus num todo é perfeito, porém os homens traiçoeiros, fazem o mal a seu irmão, muitas vezes por dinheiro.
Que os deixam por viver, nada mais que uma jornada, Jornada essa de mentiras, ilusões inacabadas.
Nesta vida de ardor, onde roubam meu viver, Sacrifico minha vida, tentando ao próximo entender.
Prefiro assim seguir, e não renegar ao mais complexo e profundo, e aos poucos entender, o desespero deste mundo.
Viver um sonho é complicado, são duas histórias a escrever, nelas leva-se duas formas de agir em seu viver.
O infinito é o limite para o teu sonho atracar, nem um tolo viveria uma vida, sem ter um sonho pra sonhar.
Sendo boa ou ruim, uma história ficará. Vida única e cruel, professora dos errantes,
Rigorosa e improvável, como o mar aos aspirantes.
Mesmo triste este labor, nele tem-se um lazer, sonhar não é pecado, torna bonito tal viver.
Um sonho bem composto, é uma estória bem escrita, vejam só um grande sonho, o que tive em minha vida...
Vida simples e perfeita, excelência num viver, tal harmonia de sentimentos, a muito não se vê.
Que a maldade, a soberba, não existissem em ninguém, tal sonho é de outrora, e só num sonho que se tem.
Deus num todo é perfeito, porém os homens traiçoeiros, fazem o mal a seu irmão, muitas vezes por dinheiro.
Que os deixam por viver, nada mais que uma jornada, Jornada essa de mentiras, ilusões inacabadas.
Nesta vida de ardor, onde roubam meu viver, Sacrifico minha vida, tentando ao próximo entender.
Prefiro assim seguir, e não renegar ao mais complexo e profundo, e aos poucos entender, o desespero deste mundo.
Viver um sonho é complicado, são duas histórias a escrever, nelas leva-se duas formas de agir em seu viver.
O infinito é o limite para o teu sonho atracar, nem um tolo viveria uma vida, sem ter um sonho pra sonhar.
terça-feira, 18 de maio de 2010
A Nau dos Loucos por Flávio Minno
O jardim das delícias está outra vez aberto
ao balouçar do barco e ao cantar do aedo,
talvez rumando para Bizâncio em segredo
ou em busca da Lemúria chegar perto.
Cada árvore dá o fruto que é certo,
da nossa aqui brota a carne de animais
a ave já dourada do fogo da planta sai
sem que nenhum de nós mostre desconcerto.
O padre que integra a nossa tripulação
aesta o canto na tábua provida da proa
E para nós é bom o vinho e a vida muito boa.
O alaúde do aedo anima o ritmo da canção,
e todos nós, que somos heróis e vagabundos,
levaremos para frente a alegria do mundo.
ao balouçar do barco e ao cantar do aedo,
talvez rumando para Bizâncio em segredo
ou em busca da Lemúria chegar perto.
Cada árvore dá o fruto que é certo,
da nossa aqui brota a carne de animais
a ave já dourada do fogo da planta sai
sem que nenhum de nós mostre desconcerto.
O padre que integra a nossa tripulação
aesta o canto na tábua provida da proa
E para nós é bom o vinho e a vida muito boa.
O alaúde do aedo anima o ritmo da canção,
e todos nós, que somos heróis e vagabundos,
levaremos para frente a alegria do mundo.
dia de todos os dias por Pietro Wagner
(manhã
e tudo e a terra, nas horas nas pedras,
manhã
na mão o pouco de sol que o dia traz
manhã
e fora da casa um vento que leva
manhã
aos olhos que todos os dias saem)
levavas pela manhã, inteira braços,
o pássaro de plumas de mormaço
que teus olhos viam nos dias calmos
voando acima das nuvens de outubro
e com ele numa alegria branca
que em torno de ti respirava
folhas, tantas folhas, dançavam
que as casas encheram-se de olhos
e as portas deram caminho aos passos
e os passos foram a manhã da estrada
que sem cuidados recebia a sombra
das folhas, no dia em que todo o vento
soprava-te dálias pelo tempo
e em tudo havia um certo rumor ou euforia
como se as mãos, esquecidas dos templos,
levadas ao ar, que as aquecia,
espelhassem a lâmina de luz macia
que o sol fazia chegar à estrada
e a estrada ao dia
para que todas as casas e as vigas
olhassem, olhassem
a dança das folhas e do vento
para que todos os olhos
dançassem, dançassem
nas voltas e voltas que o vento fazia
e em torno de ti, numa alegria,
o branco e o dia saíam
a dizer pelo mundo
que uma parte terrestre do sol
fez aquela manhã com um fio do mármore estelar
que as alegrias levam quando amanhecem
a dizer pelo mundo
que tu, parte de sol, parte de vento,
sorriste ao dia
e ele devolveu-te um aceno
e tudo e a terra, nas horas nas pedras,
manhã
na mão o pouco de sol que o dia traz
manhã
e fora da casa um vento que leva
manhã
aos olhos que todos os dias saem)
levavas pela manhã, inteira braços,
o pássaro de plumas de mormaço
que teus olhos viam nos dias calmos
voando acima das nuvens de outubro
e com ele numa alegria branca
que em torno de ti respirava
folhas, tantas folhas, dançavam
que as casas encheram-se de olhos
e as portas deram caminho aos passos
e os passos foram a manhã da estrada
que sem cuidados recebia a sombra
das folhas, no dia em que todo o vento
soprava-te dálias pelo tempo
e em tudo havia um certo rumor ou euforia
como se as mãos, esquecidas dos templos,
levadas ao ar, que as aquecia,
espelhassem a lâmina de luz macia
que o sol fazia chegar à estrada
e a estrada ao dia
para que todas as casas e as vigas
olhassem, olhassem
a dança das folhas e do vento
para que todos os olhos
dançassem, dançassem
nas voltas e voltas que o vento fazia
e em torno de ti, numa alegria,
o branco e o dia saíam
a dizer pelo mundo
que uma parte terrestre do sol
fez aquela manhã com um fio do mármore estelar
que as alegrias levam quando amanhecem
a dizer pelo mundo
que tu, parte de sol, parte de vento,
sorriste ao dia
e ele devolveu-te um aceno
quando amanhece por Pietro Wagner
acordada pelo sol uma ave olha o dia aumentar as casas
as asas abrindo sombreia a pedra onde pousou o seu cansaço
pisa a pedra, olha o dia, contrai as garras,
e num abraço pássaro vê a terra despegar-se de seus passos
ave que é, leva nas asas a razão das nuvens
e o sentido da pedra nas garras
mas os olhos, os olhos os têm para que a terra
esteja azul abaixo, azul e esfera
não é mais que ave
mas esta ave vê a sombra do dia
cortar os vales e as vias
e, cheia de sol, vê os panos,
que a noite guardou na umidade,
embranquecer os varais
vê também o último frio fugir da noite
indo fazer acesos os fornos da manhã
para que se aqueça o pão e a mão que o consome
espera pelas janelas quando se abrem
porque abrem-se com elas sons e gente
espera pelas janelas para que delas voe
do último sono o primeiro perfume
e tudo vê a ave no seu vôo amanhecido
vê os sinos chamarem as orações
vê o dia estender os abraços
vê as mesas balançarem os pratos
vê, e quando vê, um sim imenso
diz que o dia vai com ela pelo espaço
as asas abrindo sombreia a pedra onde pousou o seu cansaço
pisa a pedra, olha o dia, contrai as garras,
e num abraço pássaro vê a terra despegar-se de seus passos
ave que é, leva nas asas a razão das nuvens
e o sentido da pedra nas garras
mas os olhos, os olhos os têm para que a terra
esteja azul abaixo, azul e esfera
não é mais que ave
mas esta ave vê a sombra do dia
cortar os vales e as vias
e, cheia de sol, vê os panos,
que a noite guardou na umidade,
embranquecer os varais
vê também o último frio fugir da noite
indo fazer acesos os fornos da manhã
para que se aqueça o pão e a mão que o consome
espera pelas janelas quando se abrem
porque abrem-se com elas sons e gente
espera pelas janelas para que delas voe
do último sono o primeiro perfume
e tudo vê a ave no seu vôo amanhecido
vê os sinos chamarem as orações
vê o dia estender os abraços
vê as mesas balançarem os pratos
vê, e quando vê, um sim imenso
diz que o dia vai com ela pelo espaço
I por Rogério Mendes
Intelectuais de neve
Covardes que brilham
E derretem diante do sol
Dos olhos de quem simplesmente ama
Assim, desama, desanda
O que não se intelectualiza
Porque desliza o que
Os sentidos não captam
Ingenuidade profana
Dos que pensam ser
Acima de tudo
O que gostariam que fosse
Covardes que brilham
E derretem diante do sol
Dos olhos de quem simplesmente ama
Assim, desama, desanda
O que não se intelectualiza
Porque desliza o que
Os sentidos não captam
Ingenuidade profana
Dos que pensam ser
Acima de tudo
O que gostariam que fosse
as águas psíquicas por Delmo Montenegro
não há nada de concreto aqui
nos espirais da fala
nada de cataclismos inoperantes
nada nesta massa dodecafônica
nesta casa de vespas
apenas uma combustão de signos sagitários
um vinho de abstração e letargia
entre sóis de espátulas e músculos decompostos
entre os sóis de algoritmos
eis a nova casa dissonante
o séqüito das chuvas polissêmicas sobre o corpo
as musculaturas dementes
a taquicardia nas camisas de esperança
nos mares adultos contidos nesta prisão
não há nada de concreto aqui
nas paredes angulosas desta representação
nada de cataclismos inoperantes
apenas a expiação dócil dos nervos
apenas este mel dos clavicórdios
esta fala de arritmias
esta flor fabricada
esta flor de maceração líquida
porém há algo
contudo há algo de inóspito nos frutos sonoros
na carne da tua derrisão
há algo na engenharia das peles fibráceas
os pequenos escândalos
as orquestras do azimute
as plurificações dos equinócios
as assinaturas volantes
as vespas incontidas na descarnação dos discursos
há algo na engenharia dos angiospermos
não há nada de concreto aqui
assim ensina a toxicologia das falas
assim ensina a educação inoperante dos cataclismos
os verbos dos heliantos
não há nada nesta massa sonante de sortilégios
a não ser a tauromaquia da servidão
a tauromaquia dos labirintos
o sol febril das cadências
a marcha ossiânica
o branco agônico da decantação lírica
o teatro das vespas
não há nada de concreto aqui
nos espirais da fala
nada de cataclismos inoperantes
nada nesta massa dodecafônica
nesta casa de vespas
apenas uma combustão de signos sagitários
um vinho de abstração e letargia
entre sóis de espátulas e músculos decompostos
entre os sóis de algoritmos
eis a nova casa dissonante
o séqüito das chuvas polissêmicas sobre o corpo
as musculaturas dementes
a taquicardia nas camisas de esperança
nos mares adultos contidos nesta prisão
não há nada de concreto aqui
nas paredes angulosas desta representação
nada de cataclismos inoperantes
apenas a expiação dócil dos nervos
apenas este mel dos clavicórdios
esta fala de arritmias
esta flor fabricada
esta flor de maceração líquida
porém há algo
contudo há algo de inóspito nos frutos sonoros
na carne da tua derrisão
há algo na engenharia das peles fibráceas
os pequenos escândalos
as orquestras do azimute
as plurificações dos equinócios
as assinaturas volantes
as vespas incontidas na descarnação dos discursos
há algo na engenharia dos angiospermos
não há nada de concreto aqui
assim ensina a toxicologia das falas
assim ensina a educação inoperante dos cataclismos
os verbos dos heliantos
não há nada nesta massa sonante de sortilégios
a não ser a tauromaquia da servidão
a tauromaquia dos labirintos
o sol febril das cadências
a marcha ossiânica
o branco agônico da decantação lírica
o teatro das vespas
não há nada de concreto aqui
palavras que debutam por Gustavo Pedrosa
não se escrevem com letras maiúsculas
sejam frondosas ou finas¬ _
Nem prescindem de um olhar suspicaz
palavras que disputam
precisam deitar de borco
e consumar o coito anal
sem geléia ou confete
palavras putas
precisam ser proscritas e prescritas
apodrecer numa prisão purulenta
de páginas e traças parnasianas
palavras que debutam
são virgens e molhadinhas
de um viço semântico desmedido
sejam frondosas ou finas¬ _
Nem prescindem de um olhar suspicaz
palavras que disputam
precisam deitar de borco
e consumar o coito anal
sem geléia ou confete
palavras putas
precisam ser proscritas e prescritas
apodrecer numa prisão purulenta
de páginas e traças parnasianas
palavras que debutam
são virgens e molhadinhas
de um viço semântico desmedido
O Revisitado por Eduardo Cordeiro
Eu sou belo, ó mortais!
Belo como uma flor maldita
que peca em resvalios.
Como o quebrar da noite
após um longo dorso.
És certo,
digo apenas;
Belo como a brancura
do silêncio dos covardes,
assim como dizem meus irmãos.
Belo como a mulher incorpórea
cujo corpo eu mentia
e me fazia rimar.
Belo como uma flor maldita
que peca em resvalios.
Como o quebrar da noite
após um longo dorso.
És certo,
digo apenas;
Belo como a brancura
do silêncio dos covardes,
assim como dizem meus irmãos.
Belo como a mulher incorpórea
cujo corpo eu mentia
e me fazia rimar.
Poema Grego por Fernando Figuêroa
Difícil aprendizagem
Vida – curta disputa
Enquanto a morte em festejos
Vestida de trajes de sacanagens
Não vem nos visitar
Vamos arrendar um bar
E beber cicuta
Jogar pedras nas lâmpadas
Do Mito da Gruta
Agora no Ágora a água no bar
Despenca em líquido furta cor
Ou a cor que se furta
No programa da jovem puta
Que escreve nas ruas
Mas ninguém lê ou escuta
A virtude estava nos gregos e seus segredos
Que amavam a vida não seu apego
Porra nenhuma!!
São todos filhos do medo
Os gregos não estavam certos de viverem
Entre o vinho, os deuses e os perigos
Certo estou eu que rio, choro e bebo
Acompanhado maravilhosamente
Pelos amigos de degredo
Vida – curta disputa
Enquanto a morte em festejos
Vestida de trajes de sacanagens
Não vem nos visitar
Vamos arrendar um bar
E beber cicuta
Jogar pedras nas lâmpadas
Do Mito da Gruta
Agora no Ágora a água no bar
Despenca em líquido furta cor
Ou a cor que se furta
No programa da jovem puta
Que escreve nas ruas
Mas ninguém lê ou escuta
A virtude estava nos gregos e seus segredos
Que amavam a vida não seu apego
Porra nenhuma!!
São todos filhos do medo
Os gregos não estavam certos de viverem
Entre o vinho, os deuses e os perigos
Certo estou eu que rio, choro e bebo
Acompanhado maravilhosamente
Pelos amigos de degredo
Apologia das Garaffas por Leonardo Neves
O uísque me ilumina vida afora
Abre a estrada onde a sabedoria arde
E aflora o sentido da música e da poesia
A cerveja passa o tempo com calma
Torna possível a paisagem dos bares
Celebrando de amargo o doce enjoado dos lares
O conhaque é a glória
Goles de fogo na bojuda taça da virtude
Nos sagra cavalheiros
A vodka traz de volta Maiakowski
E sua receita para a morte
O vinho é o requinte da loucura
A cachaça o motivo das frutas
Um ou dois licores rebaterão o banquete
O Martini, o campari e o vermute enfeitarão o bar
Ou serão servidos na piscina em campanhas publicitárias
Depois da bebedeira os homens serão mais homens
E as mulheres taradas!
Eis minhas garrafas!
Comoção de minha vida!
Abre a estrada onde a sabedoria arde
E aflora o sentido da música e da poesia
A cerveja passa o tempo com calma
Torna possível a paisagem dos bares
Celebrando de amargo o doce enjoado dos lares
O conhaque é a glória
Goles de fogo na bojuda taça da virtude
Nos sagra cavalheiros
A vodka traz de volta Maiakowski
E sua receita para a morte
O vinho é o requinte da loucura
A cachaça o motivo das frutas
Um ou dois licores rebaterão o banquete
O Martini, o campari e o vermute enfeitarão o bar
Ou serão servidos na piscina em campanhas publicitárias
Depois da bebedeira os homens serão mais homens
E as mulheres taradas!
Eis minhas garrafas!
Comoção de minha vida!
A embarcação por Flávio Minno
Do mar paira a assombrosa manta,
mas não há mar que intimide este canto,
antes isto, Tifis, que um túmulo de terra
daqueles que nunca navegaram.
É preciso, para o mar alto,
de Argos, um denodado barco,
para a água imensa e desconhecida,
a esperança e a descoberta.
Assim, há de termos audácia
para irmos no encalço da essência,
navegar sempre será necessário,
e viver sempre conveniência.
Invoquemos todas as filosofias
para nosso longo passo ao porto,
hoje buscaremos, festejadores
da taça e também da ostraria.
mas não há mar que intimide este canto,
antes isto, Tifis, que um túmulo de terra
daqueles que nunca navegaram.
É preciso, para o mar alto,
de Argos, um denodado barco,
para a água imensa e desconhecida,
a esperança e a descoberta.
Assim, há de termos audácia
para irmos no encalço da essência,
navegar sempre será necessário,
e viver sempre conveniência.
Invoquemos todas as filosofias
para nosso longo passo ao porto,
hoje buscaremos, festejadores
da taça e também da ostraria.
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