Abriram as portas pesadas da casa sob o Vesúvio
e as estátuas dos casais abraçados ornavam o chão,
a nitidez das feições deixava entrever
que o amor não estava sob a ilusão do tempo,
mesmo nas inscrições sentimentais nas paredes
que o tempo decorrido não pôde fazer esquecer.
Em outro lugar, duas majestades egípcias,
sentadas, lada a lado, como se esperassem,
quase entrelaçam as mãos de pedra
num atalho complacente que vence a saudade
e cava a rocha rancorosa e inclemente.
Ó amor imaculado e sólido para a eternidade.
Tu és o filho do recurso, mas também da pobreza,
até os beirais sem fim, diz-me o que desejas?
O que os outros, à regra, acham ser impossível.
E és preservado para dentro das esculturas gregas,
numa jovem Dafne por um deus perseguida
ou uma Galatéia sendo amada num pedestal.
Que os arqueólogos possam descobrir o amor
guardado embaixo das ruínas, nos escombros
sob a mesa posta para a ceia que não deu tempo
ou sobre as artes, depositada a matéria da lembrança
nos submersos das antigas civilizações perdidas,
nas lendas, nas cartas destes vetustos amantes.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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