segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Amor por Flávio Minno

Abriram as portas pesadas da casa sob o Vesúvio

e as estátuas dos casais abraçados ornavam o chão,

a nitidez das feições deixava entrever

que o amor não estava sob a ilusão do tempo,

mesmo nas inscrições sentimentais nas paredes

que o tempo decorrido não pôde fazer esquecer.



Em outro lugar, duas majestades egípcias,

sentadas, lada a lado, como se esperassem,

quase entrelaçam as mãos de pedra

num atalho complacente que vence a saudade

e cava a rocha rancorosa e inclemente.

Ó amor imaculado e sólido para a eternidade.



Tu és o filho do recurso, mas também da pobreza,

até os beirais sem fim, diz-me o que desejas?

O que os outros, à regra, acham ser impossível.

E és preservado para dentro das esculturas gregas,

numa jovem Dafne por um deus perseguida

ou uma Galatéia sendo amada num pedestal.



Que os arqueólogos possam descobrir o amor

guardado embaixo das ruínas, nos escombros

sob a mesa posta para a ceia que não deu tempo

ou sobre as artes, depositada a matéria da lembrança

nos submersos das antigas civilizações perdidas,

nas lendas, nas cartas destes vetustos amantes.

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