sexta-feira, 25 de junho de 2010

Jairo Lima

            Rimbaud




era uma mulher sem nexo

mas com filhos

de olhos duros vidros

aspeados

por sobrancelhas de pó enegrecido



era um sol deslembrado de sombras

e de mundos amanhecidos

e eu dizia aos seus olhos pequenos e incompassivos

que rimbaud já foi rimbaud

e eu não precisava de pedras nem de vidraças

para escrever um livro

nem de tetas negras ou deserto infame

nem de calvários para purgar meu sangue

ali, naquela hora afastada

eu ouvia sorrindo o seu gemido

e lhe negava o verso que implorava

e, como o dia apaga da noite os vestígios,

eu esmagava, um a um, os acordes que conduziam a lembrança de suas dores

para o olvido



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